segunda-feira, novembro 07, 2005

CINEMA PERTO DA TELA NÃO TEM GRAÇA

O fato de nesse ano eu não ter sido tão assíduo em minhas idas ao cinema, não me tira o direito de protestar. É realmente uma pena saber que o Cine Natal fechou as portas. Já tinha ouvido falar que o Grupo Severiano Ribeiro havia declarado o fim das atividades das salas que mantinha no Natal Shopping. Mas, somente na última semana pude constatar, com os meus próprios olhos, o compensado branco que tomou o lugar das portas de vidro do finado cinema.

Não posso negar que tenho um apreço especial pelas coisas materiais, dos mais variados tipos. Mas, excetuando-se alguns poucos bares (em especial os que abrigam sinucas oficiais), o Machadão, o Colégio Salesiano e o meu quarto, nunca mantive ligação mais profunda com estruturas físicas. Eis que o velho clichê mais uma vez se anuncia: só valorizamos algo quando o damos por perdido. Quando vi que aquele lugar que me proporcionou sensações tão bacanas acabou, deu uma tristeza...

Tristeza maior ainda senti ao lembrar do fim do Cine Natal, assistindo o besteirol “Gigolô Europeu Por Acidente” na sala 2 do Moviecom, no feriado de finados. Que sala de exibição minúscula! Que som ruim! Deu uma saudade grande das salas espaçosas do Natal Shopping. Espero ansioso que os grupos responsáveis pela construção das salas que estão para ser inauguradas no Midway e no Shopping Orla Sul não economizem tijolos e façam salas aptas a receber pelo menos três centenas de pessoas.

Cinema perto da tela não tem graça.

terça-feira, novembro 01, 2005

O SEUZÉ POR MIM

Uma das coisas mais complicadas de se fazer numa banda, com certeza é um release legal. É uma tarefa muito difícil conseguir passar, o mais parcial e sintético possível, o que é o grupo. Eu sempre tomei a iniciativa de fazer os releases das bandas em que toquei e nunca consegui ir além de um elogio de si mesmo, enqüanto banda.

Decidi comprar o desafio e escrevi o novo release oficial do SeuZé. O resultado está o mais factual, sintético e parcial que consegui.
Essa vai ser a primeira leitura que os produtores e mídia de fora terão da banda quando começarmos a enviar o CD para as outras regiões.
Espero que gostem.

RELEASE

Antes de qualquer coisa o SeuZé é uma banda que toca música sem se preocupar com a amplitude de significações e abrangência de estilos que o nome música sugere. Se para alguns a diversidade musical pode implicar em falta de identidade ou personalidade, para os Zés a lógica é outra. E não poderia ser diferente. Ora, como esperar que quatro indivíduos com gostos e referências musicais completamente diferentes produzam um som uniforme que possa ser tachado ou enjaulado em determinado segmento?

É assim, na contramão do que geralmente ocorre com grupos em início de carreira – formados pelas afinidades – que, desde 2003 o SeuZé, originado em Natal, vem construindo um trabalho sólido a partir das diferenças dos seus músicos. A banda tem a consciência de que em arte não existe originalidade, no máximo pioneirismo. Tudo é referência, reinvenção. É nesse sentido que o grupo não teme assumir a influência que sofre de artistas que, por mais que aparentem não estar em sintonia ou contemporaneidade, se encontram na perpendicular do bom gosto.

O primeiro CD do grupo, Festival do Desconcerto, lançado pelo selo potiguar Mudernage Diskos, aponta para esse caminho: mais o assumir de diferenças e influências do que um projeto utópico de originalidade. No primeiro trabalho do SeuZé pode-se constatar, sem muito esforço, a ironia de um Noel Rosa ou Mutantes, a indignação de Chico Buarque e Radiohead, a melodia de Caetano Veloso e Los Hermanos, o peso do Sepultura e do Muse, a cadência de Luiz Gonzaga, B. B. King e Chico Science, ou ainda, e por que não, o imaginário de Stanley Kubrick.

Lipe Tavares, FeLL, Augusto Souza e Xandi Rocha vêm, nesses três anos de carreira, conseguindo firmar o SeuZé como um dos nomes mais representativos da atual música independente nordestina. Fato é que o grupo tem sido alvo de matérias da mídia especializada de diversos estados do Brasil. A participação da banda, no ano de 2005, em alguns dos mais importantes festivais do país, como a Feira da Música (CE) e o TIM MADA (RN), atesta o bom momento. Também são prova do reconhecimento que os Zés têm conseguido, as 8 indicações, que receberam, em 2004 e 2005, a uma das mais importantes cerimônias musicais do Nordeste, o Prêmio Hangar de Música.

A máxima do SeuZé é, sem dúvidas, a de fazer música sem se preocupar se ela vai se chamar samba, xote, rock, tango ou vai ser simplesmente anônima. Se ela tiver o apelido de bom gosto e soar doce aos ouvidos e se mostrar inteligente aos olhos, é c’est fini, fim de papo.


DISCOGRAFIA

SeuZé (Demo). 2003. Independente.
Coletânea Bronzeador Virtual (CD-R/Coletânea virtual). 2004. DoSol Records.
Realidade Não Tão Paralela (EP). 2004. DoSol Records
Coletânea Virtual Papa – Jerimum/Tim Mada 2005 (CD-R/Coletânea virtual). 2005. Rock Potiguar.
Festival do Desconcerto (CD). 2005. Mudernage Records.