quarta-feira, fevereiro 08, 2006

ONU: A BABEL DOS DIAS DE HOJE?

Sempre que me pego pensando a respeito da atuação da ONU, a conclusão de que a entidade vive mais de discurso do que de soluções práticas para os problemas que se propõe a resolver, é a única que tenho. Entretanto, me atrevo a propor uma explicação para o fato.

Apesar de o inglês ser o idioma padrão para a comunicação entre indivíduos de nacionalidades e línguas distintas, em todo o mundo, parece haver um grande problema na Organização das Nações, no que diz respeito ao entendimento das mensagens entre os seus reais membros e os reais interessados nos trabalhos do órgão.

O Secretário-Geral, Kofi Annan, tem mostrado uma sensibilidade ímpar no trato com as questões fundamentais propostas para o seu segundo mandato na entidade: reforçar o trabalho que a Organização leva tradicionalmente a cabo em prol do desenvolvimento da paz e da segurança internacionais; incentivar e promover os direitos humanos, o estado de direito e os valores universais da igualdade, da tolerância e da dignidade humana consagrados na Carta das Nações Unidas; e ainda restabelecer a confiança da opinião pública na Organização.

Infelizmente, e não pela vontade de Annan, a Secretaria Geral parece ser mais um cargo decorativo do que um centro de tomada de decisões concretas.

A passagem bíblica da Torre de Babel – que pode ser encontrada no capítulo 11 do Gênesis – sugere que em determinado momento da antiga história dos judeus, quando todos os homens ainda falavam a mesma língua, estes foram punidos por Deus. Segundo a interpretação tradicional, através da construção de uma torre que cruzasse o céu, o povo de Israel visava se aproximar da divindade, para então agradecê-lo por ter escapado do grande dilúvio que a tudo arrasou em tempos remotos.

Mas, a idéia de Deus vingativo e punitivo já estava no imaginário coletivo, na época em que certas partes do Gênesis foram escritas ou compiladas. Assim, Deus entendeu que a demonstração de agradecimento dos homens, não passava de um excesso de soberba, e que o homem pecava ao adorar a criação, ao invés de adorar o criador (a torre também seria um lugar de observação da lua, do sol e das estrelas). A divindade, então, lançou um encanto e fez com que todos os homens falassem línguas diferentes, o que impediu que os envolvidos na construção da torre se entendessem, levando o projeto por água abaixo.

Nos dias de hoje, levando em consideração que qualquer flanelinha mais esperto consegue pronunciar o bi-ei-bi básico do inglês, a construção de um monumento como a torre da antiga babel é possível. Vide os arranha-céus da terra do Tio Sam. Globalização é assim mesmo: estadunidense falando inglês contrata; latino-americano falando espanhol da América Latina constrói e árabe-mulçumano falando algo que só as hienas devem entender, põe tudo abaixo.

O maior problema da ONU não diz respeito à comunicação entre os seus integrantes, mas está no plano do entendimento. É fato que o campo de atuação das Nações Unidas está concentrado em países com baixo grau de desenvolvimento. O difícil é conciliar isso, partindo do pressuposto que o centro de tomada de decisões está nas nações que não necessitam dos trabalhos da organização. Por mais sensível que seja aos problemas alheios, a cúpula da ONU jamais terá a sensibilidade necessária para viabilizar soluções concretas, se a bagunça não acontece no seu jardim.

Eis que, se um estadunidense contrata mais um latino-americano para erguer um edifício qualquer, e convence o mundo todo que um árabe derrubou de novo, o Conselho de Segurança é convocado. E há gente que ainda briga por uma cadeira permanente nessa mesa...

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo o texto, Lipe! E "bi-ei-bi" foi massa! Aliás, esse parágrafo todo ficou massa! Acho que devo ter um desejo secreto de ser hiena, pois sempre tive vontade de aprender árabe (quem sabe um dia eu consiga)! :P
Bom, acho que, no fundo, no fundo, todos os problemas da humanidade são causados por falta de entendimento entre os seres humanos. Mas não creio que a causa principal disso seja exatamente falhas de comunicação por diferenças de linguagens. É que é difícil várias pessoas conseguirem entrar num acordo comum quando cada um quer ser o dono absoluto da razão e satisfazer suas próprias conveniências, desprezando o coletivo. Ser humano é um animal complicado... =/
E quanto à questão de haver pessoas brigando pra ocupar um lugar na ONU, deve ser mais ou menos pelo mesmo motivo que algumas pessoas brigam por um cargo político: alguma coisa... aliás, muita coisa ($$$$$) eles devem ganhar com isso. Ou vc acha realmente que eles estão lá apenas para fazer o bem e melhorar a vida dos demais?! =/
Bjs!
Ps: Meu blog tb está atualizado. Aproveita, que isso é coisa rara... hehehehehehe... ;D

Anônimo disse...

Ui, essa das hienas foi uma alfinetada cruel ... de minha parte por enquanto só entendo "Inhsala". Gostei desse post.